terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Novas teses tributárias surgem com o mensalão

Advogados já têm teses prontas para discutir na Justiça a cobrança e restituição de tributos, além de causas perdidas no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), com base no julgamento do mensalão, finalizado há um mês no Supremo Tribunal Federal (STF).

Depois de 53 sessões, a Corte condenou 25 pessoas pela participação no desvio de dinheiro e compra de votos de parlamentares em troca de apoio em votações de projetos de interesse do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na área tributária, o julgamento do mensalão pode ter reflexo nas discussões fiscais analisadas pelo Carf – última instância administrativa para discutir autuações do Fisco.

O entendimento do Supremo de que empates beneficiam os réus será utilizado por advogados para tentar derrubar decisões contrárias aos contribuintes no órgão do Ministério da Fazenda. “Será minha estratégia a partir de agora”, diz Vinícius Branco, sócio do Levy & Salomão Advogados. Em outubro, a maioria dos ministros decidiu absolver sete réus do mensalão cujo placar ficou empatado.

O voto do então presidente da Corte, ministro Ayres Britto, foi no sentido de que a Constituição Federal e o Código de Processo Penal estabelecem que, na dúvida, o acusado será favorecido. Este princípio é conhecido como “in dubio pro reo”. O regimento do Carf é um obstáculo à aplicação do princípio. Pelo texto, os empates são definidos pelo voto de qualidade do presidente da sessão, que é sempre um representante do governo.

“Seremos municiados pelos contribuintes a pensar sobre isso. Mas haverá muita discussão porque não podemos ir contra o regimento”, diz a conselheira do Carf, Nanci Gama, do escritório Xavier Bragança Advogados. A estratégia dos tributaristas é levantar o precedente do STF nos casos em que a condenação for mantida pelo voto de qualidade do presidente. Quando a denúncia de ilícito fiscal (como sonegação e fraude) é mantida, o contribuinte deve responder à ação penal, além de pagar o imposto com multa de 150%.

Segundo advogados, se o argumento for rejeitado pelo Carf, caberá ao Judiciário definir se o princípio ou o regimento prevalecem. “Haverá uma análise de constitucionalidade do regimento do Carf”, afirma o advogado Yun ki Lee, sócio do Dantas, Lee, Brock & Camargo Advogados. “O empate é reflexo de dúvida, que não pode prejudicar o contribuinte”, completa. Ao contrário de outros advogados, Yun ki Lee acredita que a aplicação do princípio não se limita a casos de crime fiscal, mas à qualquer discussão sobre exigência do imposto.

“A discussão é mais difícil, mas pessoalmente acredito que os princípios básicos do direito penal se aplicam ao direito tributário”, diz. O julgamento do mensalão também poderá abrir brecha para o ajuizamento de ações de restituição da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), paga entre janeiro de 2005 e dezembro de 2007.

Segundo dados da Receita Federal, no período foram recolhidos quase R$ 98 bilhões em CPMF. A exigência da contribuição foi prorrogada pelo artigo terceiro da minirreforma tributária de 2003 (Emenda Constitucional nº 42) que, segundo o Supremo, seria um dos projetos aprovados com a compra de votos. A advogada Elisabeth Lewandowski Libertuci, autora da tese, defende que a emenda tem inconstitucionalidade formal em razão das violações à Constituição, como ao princípio da moralidade e falta de expressão da vontade do povo por meio dos seus representantes. “Não há inconstitucionalidade do tributo. Na verdade, o texto legal inexiste por conta do vício no rito legislativo”, defende.

“Logo, o que foi arrecadado no período pode ser considerado indébito sem causa do poder público”, completa. A tributarista diz foi contratada por empresas para defender a tese no Judiciário, mas aguarda a publicação do acórdão para propor as ações na primeira instância. “O prazo para pedir a restituição começa no momento em que o STF reconhecer definitivamente que houve crimes na votação da emenda 42″, diz, referindo-se ao Decreto nº 20.910, de 1932, que regula a prescrição.

Apesar de considerarem a tese engenhosa, advogados afirmam que há diversos obstáculos para que se tenha êxito no Judiciário. O primeiro deles seria o impacto da decisão para os cofres públicos e a segurança jurídica. “Se o Supremo derrubar a Emenda 42 terá que fazer com as demais sujeitas à vício de tramitação. Haveria um caos institucional no país”, diz Fábio Martins de Andrade, do Andrade Advogados Associados, acrescentando que o Supremo poderia modular sua decisão para o futuro. O que, para a discussão da CPMF não teria efeitos por não estar mais em vigor. A advogada Damares Medina concorda. “Parte-se da premissa de que emenda é inexistente, o que é errado”, afirma. “Ainda que a norma seja inconstitucional o STF modularia sua eficácia”, diz. Bárbara Pombo

Fonte: Valor Econômico.

Governo estuda proposta que permitirá excluir Estados e municípios da meta fiscal

A equipe econômica trabalha em uma proposta que, na prática, permitirá excluir Estados e municípios do cálculo do superavit primário (a economia feita pelo setor público para pagar juros que incidem sobre a dívida).

A medida, se implementada, retirará das costas do Executivo federal parte do peso de ter que cumprir uma meta equivalente a 3,1% do PIB --R$ 155,9 bilhões em valores previstos para este ano.

Em vez disso, a meta passaria a ser economizar pouco mais de 2% do PIB. Apesar de menor, o valor ainda é considerado "confortável" por integrantes do Executivo.

Se a alteração já tivesse sido feita, o Tesouro não teria que usar de manobras para elevar seu esforço fiscal.

A ideia prevê retirar da lei a obrigação de a União ter que compensar o esforço fiscal que Estados e municípios não conseguirem atingir no ano.

Isso acontece porque a meta é fixada para o setor público consolidado. A maior parte (R$ 108,1 bilhões) fica para o governo federal, e os outros quase R$ 48 bilhões cabem a Estados e municípios.

No entanto, se eles não cumprem esse valor, o governo central tem que elevar sua economia de forma a alcançar a meta total prevista. Na prática, a mudança pode fazer com que o esforço final da União seja menor e fique restrito à parcela a ela atribuída.

Hoje, a economia fixada para Estados e municípios equivale a cerca de 0,95 ponto percentual do superavit de 3,1% previsto. Porém, a equipe econômica calcula que eles estão fazendo algo entre 0,6 e 0,7 ponto percentual.

Em 2012, por exemplo, a estimativa é que ele tenham economizado praticamente metade do previsto.

META REALISTA

A proposta prevê ainda uma redução na meta para esses entes da Federação, estabelecendo valores mais "realistas". Mas, caso eles não sejam cumpridos, não haverá sobrecarga para a União.

As discussões sobre ajustes na meta começaram no fim de 2012, após avaliações no governo de que a amarra fiscal dificulta a ampliação dos investimentos e, portanto, a aceleração da economia.

Elas ganharam força com o desgaste que as manobras contábeis feitas pelo Tesouro Nacional para tentar cumprir a meta de 2012 geraram para equipe econômica.

NATUZA NERY
SHEILA D'AMORIM
DE BRASÍLIA

Fonte: Folha de S. Paulo.

Fisco deixou de arrecadar R$ 1,67 bi no CE em 2012

Apesar do número de contribuintes que não pagaram ter diminuído, valor foi 17,6% superior ao registrado em 2011

O número de contribuintes cearenses que deixaram de pagar seus respectivos tributos em 2012 foi 19% menor do que o registrado no ano anterior, mas engana-se quem acredita que isso, consequentemente, significa queda no valor total devido. Conforme dados divulgados ontem pela Receita Federal, somente no ano passado o Ceará foi responsável por R$ 1,67 bilhão que deixou de chegar aos cofres públicos da União por conta de equívocos e fraudes nas declarações, valor 17,6% superior ao R$ 1,42 bilhão devido em 2011.

De acordo com o superintendente adjunto da Receita Federal no Ceará, Marcelo Ribeiro Alves, o valor do tributo que deixou de ser pago acabou subindo em 2012 porque a Receita se concentrou na fiscalização dos grandes contribuintes, que foram responsáveis por mais da metade do montante devido.

"A fiscalização focou em empresas de grande porte e evidenciou que elas foram responsáveis por quase R$ 1 bilhão que deixou de ser arrecadado no período. Em suma, os médios e pequenos contribuintes jurídicos, assim como as pessoas físicas, tiveram menos problemas, mas, em contrapartida, as empresas maiores apresentaram números mais expressivos", disse Alves.

Fora a participação dos grandes contribuintes no valor total devido no Estado, a divisão do débito ficou da seguinte maneira: R$ 608 milhões oriundos de pessoas jurídicas - o que engloba médias, pequenas e micro empresas - e R$ 38 milhões devidos por pessoas físicas. Esse valores incluem o débito inicial, a multa aplicada e os juros.

Fiscalização é triunfo

Ainda de acordo com o superintendente adjunto da Receita, o trabalho de fiscalização é o maior triunfo do órgão para constatar as irregularidades dos contribuintes. Conforme diz, "selecionamos as declarações que não batem com os dados que temos e pedimos esclarecimentos. Para se ter uma ideia da nossa eficiência, de cada 100 casos em que desconfiamos de irregularidades, 87 realmente as apresentam", explica Alves.

Os contribuintes que apresentarem irregularidades precisam estar prontos para um significativo prejuízo, já que a multa mais leve representa 75% do valor inicial. Em alguns casos, quando é evidenciado que o contribuinte agiu de forma dolosa, e não equivocada, esse valor pode chegar a 150%. "Dos 522 procedimentos de auditoria externa que tivemos no Ceará o ano passado, 30,1% apresentaram situações entendidas como crime contra a ordem tributária", avisa o superintendente. "Não queremos que as pessoas cheguem nessa situação, mas precisamos tomar entendimento", acrescenta.

Autuadas em R$ 87 bi

As autuações da Receita Federal com foco nos grandes contribuintes atingiram R$ 87,02 bilhões no ano passado. O valor representa 75% do total de créditos tributários lançados ao longo de 2012. As operações com foco nos grandes contribuintes aumentaram 5,5% em 2012 na comparação com o ano anterior.

De acordo com o subsecretário de Fiscalização da Receita Federal do Brasil, Caio Marcos Cândido, esse grupo representa cerca de 12,5 mil empresas e é responsável por cerca de 70% da arrecadação federal. Os grandes contribuintes são empresas que possuem um faturamento igual ou superior a R$ 100 milhões por ano. "A Receita tem se especializado nos maiores contribuintes", afirmou.

Do total das ações contra grandes contribuintes, R$ 38,97 bilhões em créditos tributários foram resultado de ações feitas por dez equipes especiais de fiscalização e quatro delegacias especiais, resultado de 364 operações fiscais encerradas. As outras unidades constituíram crédito tributário de R$ 48 bilhões, o que totaliza os R$ 87 bilhões.

Ônus

150 por cento do tributo original. Esse é o valor a que a multa aplicada pela Receita pode chegar, caso haja o entendimento que o contribuinte agiu de forma dolosa ao omitir seus rendimentos

Malha fina para empresas

Brasília. A Receita Federal pretende finalizar neste ano o projeto que cria a malha fina para pessoas jurídicas. Com o sistema informatizado pronto, será possível revisar de 20 mil a 30 mil declarações de empresas em um ano. Ontem, a Receita divulgou os números da fiscalização no ano passado e o resultado, sem a malha fina, foi recorde em lançamento de créditos tributários (valores supostamente devidos por contribuintes). No total, foram R$ 115,8 bilhões, valor que supera em 5,6% os créditos tributários de 2011.

"A malha da pessoa jurídica, prevista para 2012, não saiu por questões orçamentárias, mas temos perspectivas de implementá-la em 2013", disse o subsecretário de Fiscalização da Receita Federal, Caio Marcos Cândido. A malha fina é um banco de dados usado atualmente para contribuintes pessoas físicas no qual são armazenadas as declarações que apresentam inconsistências após os diversos cruzamento realizados pelos sistemas informatizados do Fisco.

Auditores

De acordo com Caio Marcos, os números da fiscalização em 2012 poderiam ser melhores também, não fosse pelos cerca de 120 auditores que se aposentaram e por uma movimento por reajustes salarial conhecida como Operação Crédito Zero, que consistiu na realização de todo o processo de fiscalização, mas sem o lançamento do resultado nos bancos de dados da Receita Federal. Mesmo assim, os números divulgados foram considerados "muito bons" pela Receita Federal. O subsecretário não acredita em prejuízos para os cofres públicos porque o trabalho ainda será concluído.

"Em 2013, o auditor este ano terá que dar o resultado da carga de trabalho deste ano e do ano passado. Receberá carga dobrada. A que ele não fez e a deste ano. Então, ele terá que se desdobrar para fazer os dois . É uma questão administrativa que faremos funcionar. E nós faremos, pode ter certeza", disse. Mesmo com o lançamento de R$ 115,8 bilhões em créditos tributários, não significa que todo esse recurso irá para os cofres da União, pois os contribuintes poderão questionar administrativamente para não pagar o valor.

ÁQUILA LEITE
ESPECIAL PARA ECONOMIA

Fonte: Diário do Nordeste

Autuações da Receita geram quase R$ 116 bilhões em créditos tributários em 2012

A fiscalização da Receita Federal bate novo recorde em créditos tributários, valores supostamente devidos por contribuintes. Números divulgados hoje mostram que, em 2012, foram R$ 115,8 bilhões, valor que supera em 5,6% os créditos tributários de 2011.

Segundo o subsecretário de Fiscalização da Receita Federal do Brasil, Caio Marcos Cândido, o valor não significa que esses recursos serão efetivamente arrecadados uma vez que os contribuintes ainda podem recorrer.

O resultado foi possível após 17.835 procedimentos de auditoria externa e 280.664 de revisão interna de declarações de pessoas físicas, jurídicas e do Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR).

Segundo a Receita Federal, no universo das pessoas físicas fiscalizadas, as autuações se concentraram nos contribuintes cuja principal ocupação declarada foi o de proprietário ou dirigente de sociedades empresarias. No universo das pessoas jurídicas, as autuações se concentraram no segmento industrial.

Fonte: Agência Brasil.